Pular para o conteúdo principal

Multinacional de armas escala militar brasileiro para lobby na Defesa

 Multinacional de armas escala militar brasileiro para lobby na Defesa

Estratégia se desenrola no momento em que o Brasil planeja expandir seus investimentos no setor dos atuais 1,4% para, 2,0% do PIB


Por Folhapress11/10/20 às 08H44 atualizado em 11/10/20 às 08H51


Interessadas em prospectar negócios com a ampliação do mercado brasileiro, multinacionais de armas e de equipamentos de guerra escalaram militares graduados, com influência no governo Jair Bolsonaro, para fazer lobby comercial no Ministério da Defesa. A estratégia se desenrola no momento em que o Brasil planeja expandir seus investimentos no setor dos atuais 1,4% (hoje, R$ 109 bilhões) para 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em longo prazo.

A diretriz para reequipar as Forças Armadas é evitar compras diretas e estimular parcerias entre empresas estrangeiras e nacionais, a fim de atrair a produção dos materiais a serem comprados para o território nacional, com transferência de tecnologia. Com contratos na mira, representantes de empresários e de países interessados em fazer negócios batem à porta da Seprod (Secretaria de Produtos de Defesa) do ministério, que funciona como um abre-alas para essas tratativas.

Próximo de Bolsonaro, o general reformado Paulo Chagas e um grupo de outros militares fizeram reuniões neste ano com o chefe da secretaria, Marcos Degaut, e com integrantes do Estado-Maior da Aeronáutica para a companhia italiana Leonardo International.

A agenda oficial da secretaria, obtida pela Folha via Lei de Acesso à Informação, registra apenas a presença do general, na condição de consultor, em 13 de fevereiro deste ano, embora outros militares estivessem presentes, além de um executivo da empresa.

Chagas foi o candidato do bolsonarismo pelo PSL ao governo do Distrito Federal em 2018, mas não se elegeu. Em 2019, foi alvo de operação da Polícia Federal no chamado inquérito das fake news, aberto pelo Supremo para apurar supostos ataques aos seus ministros pela internet. "Tivemos uma audiência no Ministério da Defesa. O objetivo era mostrar tudo o que a Leonardo tem para oferecer. E ela tem tudo o que o Exército e a Força Aérea precisam, ou quase tudo", disse o general.

Segundo ele, embora tenha participado da aproximação da empresa com o governo, ainda não assinou contrato com a multinacional –a pandemia interrompeu as negociações.

Chagas afirmou que, com amigos, pretende abrir uma firma para representar a Leonardo. No passado, explicou, esse time defendeu os interesses de uma empresa israelense, fornecedora do Exército. O general já juntou material sobre os produtos da companhia italiana e enviou ao escritório de projetos do Exército. "O retorno foi quase que imediato. Eles viram vídeo, quase tudo o que eu mandei. Falaram: 'Olha, nos interessa, sim, conhecer tudo o que a Leonardo tem, porque tudo o que ela tem faz parte do nosso portfólio, das coisas que nós queremos'", disse.

Um dos principais objetivos das reuniões é convencer o governo a comprar da Leonardo caças M-345 e M-346.
Serviriam para combate, mas também para treinamento de pilotos, pois estão num estágio tecnológico intermediário entre os Supertucanos, usados hoje pelo Brasil, e os Gripen, comprados da sueca Saab.

"Nessa ida a Brasília a gente tratou desse assunto. Mas hã outros mais delicados, como os de guerra eletrônica. Me parece que a Aeronáutica está se voltando para o uso de drones", disse o coronel reformado da Aeronáutica Flávio Passos, do time citado por Chagas.

A Folha procurou a Leonardo, que não se manifestou.

Em outra frente, a ISDS (International Security & Defense Systems), que representa empresas israelenses do setor, vem atuando com a ajuda do consultor Flávio Josmar Pelegio, coronel do Exército que passou à reserva em 2013.

Em 1º de agosto de 2019, ele esteve na Secretaria de Produtos de Defesa com o presidente da companhia, Leo Gleser.
À Folha Pelegio confirmou ter vínculo comercial com a ISDS, da qual se diz consultor, mas não quis dar detalhes de reunião ou propósitos da empresa. A ISDS não se pronunciou.

Na ativa, o coronel comandou regimentos de cavalaria mecanizados do Exército. É considerado nas Forças um oficial bem relacionado e influente.

Na véspera da agenda na Defesa, ele e Degaut se reuniram no Palácio do Planalto com o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, cada um em um horário distinto. Questionada sobre a pauta dos encontros, a pasta disse que foram "visitas de cortesia".

Segundo Degaut, "normalmente o ministério não trabalha com consultores". "Mas, como vieram recomendados por empresas, atendemos. Se houver alguma coisa que possa ser apresentada para as Forças como de interesse, a conversa prossegue", disse.

Questionado, Degaut disse que, "na maior parte dos casos", o conhecimento técnico é o motivo de multinacionais colocarem militares no lobby comercial na Defesa. Disse, porém, que, "em alguns casos", conta também o acesso que eles podem ter a autoridades.

Segundo ele, não há óbice na pasta para essa atuação. "A partir do momento em que ele está na reserva, tem total autonomia para escolher a carreira que desejar. Se quiser ser representante comercial, pode ser. Se achar que os contatos que construiu ao longo da vida dele podem ajudar em alguma coisa, pode tentar a sorte. Diz respeito à iniciativa individual", afirmou.

Os lobbies da Leonardo e da ISDS, segundo a Defesa, ainda estão no status de propostas e não evoluíram para contratos ou parcerias. Degaut afirmou que compras são feitas com base na realidade orçamentária, desde que o produto ou serviço esteja "dentro do planejamento estratégico" das Forças.

Diversos projetos estão sendo discutidos, como uma associação entre a MBDA, produtora europeia de mísseis, e uma empresa brasileira. Foi esse o tema de reunião entre Degaut e representantes da multinacional em 19 de novembro de 2019.

Um dos presentes era o contra-almirante Antônio Fernandes, que já deixou a ativa e agora é diretor da Simtech. A empresa confirmou à Folha que representa a MBDA no Brasil.

Ao menos três grupos estrangeiros fecharam parcerias em 2020 e foram ao ministério antes de acertarem investimentos que somam R$ 1 bilhão na construção de fábricas.

A eslovena Arex, fabricante de pistolas e outros tipos de armas, assinou um memorando para firmar sociedade com a DFA (Delfire Arms). Passarão a produzir em Goiás, com incentivos fiscais do estado.

A indiana Tatra está se instalando no Paraná e a americana Springfield, no Rio Grande do Sul. A suíça Sig Sauer deve montar operação em Minas Gerais. Para isso, teve apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Em abril, ele postou no Twitter foto de reunião com representantes da Sig Sauer, prometendo ajudá-los: "Falta a garantia política de que o lobby não atochará tantas burocracias para emperrar a instalação [de uma fábrica no país]".


Folha de São Paulo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LGBT - Major Renata Gracin, da ativa no Exército Brasileiro, relata como foi a sua transição de gênero

    LGBT - Major Renata Gracin, da ativa no Exército Brasileiro, relata como foi a sua transição de gênero. Acesse:  https://youtu.be/n91MrkP9uTQ   A Renata Gracin é militar da ativa do Exército Brasileiro e neste vídeo ela relata a sua transição de gênero. Fotos retiradas de uma rede social. Contatos com o Blog do Capitão Fernando (51) 986388430 whatsapp - http://wa.me/+5551986388430 - - -

CONHEÇA O EBCONSIG, NOVO PORTAL DE CONSIGNAÇÕES DO EXÉRCITO BRASILEIRO

CONHEÇA O EBCONSIG, NOVO PORTAL DE CONSIGNAÇÕES DO EXÉRCITO!           No dia  05 de maio de 2020 , o Centro de Pagamento do Exército (CPEx) lançará o EBconsig, o portal de consignações do Exército Brasileiro. O objetivo é proporcionar maior  qualidade, transparência e segurança  aos militares, pensionistas e Entidades Consignatárias na gestão dos descontos em contracheque (mensalidade, empréstimo, seguro, previdência, pecúlio, condomínio, decessos, financiamento, assistência jurídica, medicamento, poupança e uniforme), bem como dar acesso a inúmeros benefícios, com as menores taxas praticadas no mercado.         O sistema substituirá o atual  SISCONSIG  e trará facilidades para os militares, pensionistas, Entidades Consignatárias, Ordenadores de Despesas e síndicos, tudo em um único ambiente, dinâmico e intuitivo. Já foi iniciada a fase de processamentos paralelos com o  SISCONSIG , de modo a equaliza...

Rússia suspende participação no último tratado nuclear restante com os EUA - créditos CNN

  Rússia suspende participação no último tratado nuclear restante com os EUA O tratado START limita o número de arsenais nucleares que os EUA e a Rússia podem implantar Rússia suspende último acordo nuclear com os EUA | LIVE CNN Da Reuters 21/02/2023 às 09:42 | Atualizado 21/02/2023 às 13:16 Compartilhe: Ouvir notícia O presidente  Vladimir Putin  disse nesta terça-feira (21) que a  Rússia  está suspendendo sua participação no novo tratado START com os  Estados Unidos , que limita os arsenais nucleares estratégicos dos dois lados. “A esse respeito, sou forçado a anunciar hoje que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado estratégico de armas ofensivas”, disse Putin a parlamentares no final de um importante discurso no Parlamento, quase um ano após o início da guerra na Ucrânia. Leia Mais Site da TV estatal russa é desativado durante discurso de Putin Putin repete críticas à expansão da Otan e à atuação do Ocidente na guerra Ucrânia está servindo...