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O que a Defesa brasileira tem a aprender com o conflito na Ucrânia? --- créditos Sputnik

 

O que a Defesa brasileira tem a aprender com o conflito na Ucrânia?

Soldados do Exército Brasileiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 23.08.2022
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Dependência externa, pouca cooperação regional e desindustrialização são alguns dos problemas enfrentados pelas Forças Armadas do Brasil. Em conversa com a Sputnik Brasil, especialistas analisam esses fatores e apontam quais lições o país pode tirar do conflito na Ucrânia.
A dependência ucraniana e a autossuficiência russa em termos militares são fatores determinantes para a supremacia da Rússia no conflito europeu. Esse cenário foi mais um alerta global sobre a importância do investimento nos setores de Defesa, o que levou muitos países a anunciarem que aumentarão seus gastos no setor.
Embora as razões para cada Estado sejam divergentes, elas revelam as transformações pelas quais o mundo moderno está passando, dentro de uma nova perspectiva de reorganização geopolítica. Como aponta Eduardo Siqueira Brick, pesquisador do Núcleo de Estudos de Defesa, Inovação, Capacitação e Competitividade Industrial (UFFDEFESA) e membro da Academia Nacional de Engenharia (ANE), a principal lição que o Brasil deve tirar do conflito é que não é possível ser um ator de relevância global e ao mesmo tempo "depender dos outros para ter capacidade militar".
Segundo ele, ter esse entendimento é fundamental para um país como o Brasil, dadas as suas grandezas em termos de economia, território e população. A ideia parece abstrata ao se considerar que o Brasil tem um histórico pequeno de conflitos em suas fronteiras, mas, conforme alerta o professor, "é esse fato que leva, em muitos casos, a um descuido com o preparo da Defesa".
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A "ausência de uma estratégia para o Brasil precisa ser debatida. Mesmo que o país não tenha ameaça, isso pode mudar. Então, é preciso ter uma estratégia pensando em qual posição o Brasil gostaria de estar. É preciso ter algum poder para ter protagonismo nas relações internacionais", argumentou.

Tanto Brick quanto a professora Adriana Aparecida Marques, do curso de defesa e gestão estratégica internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concordam com a avaliação de que, tratando-se de defesa e de possíveis futuros inimigos, as probabilidades são inúmeras.
"O Brasil precisa se defender contra qualquer ameaça, pois os problemas vêm de onde a gente menos espera", disse ela, também em declarações à Sputnik Brasil.
O conflito entre Rússia e Ucrânia é também um bom exemplo para compreender outro complexo obstáculo para a defesa do Brasil: o processo de desindustrialização em progresso no país. Por ter uma autonomia tecnológica e industrial no setor de defesa, a Rússia pôde defender seus interesses vitais sem ter que recorrer ao auxílio de outros países, sendo capaz de resistir aos embargos ocidentais. Já a Ucrânia, por não ter essa autonomia, depende totalmente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Bandeiras de Brasil, Rússia e EUA no Centro de Controle de Missão RKA, da agência espacial estatal da Rússia Roscosmos, na cidade de Koroliov, região de Moscou - Sputnik Brasil, 1920, 09.08.2022
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"A capacidade militar da Ucrânia era, no início do conflito, quase que totalmente dependente de armas e tecnologias de origem russa. Com o conflito, essa fonte de suprimento foi cortada. As circunstâncias geopolíticas permitiram o suprimento de suas necessidades militares por parte de países da OTAN, o antigo adversário", analisou Eduardo Siqueira Brick.

O processo de desindustrialização brasileiro, que afeta por consequência o setor de ciência e tecnologia, com impactos agudos no âmbito militar, ocorreu por diversas razões. De forma sucinta, apontam-se os fenômenos geopolíticos que conduziram as indústrias do mundo para o Sudeste Asiático, em especial para a China, e os efeitos da abertura comercial brusca que ocorreu no Brasil nos anos 1990, associada a longos períodos de câmbio valorizado.
O fato é que o país chegou a ter 30% do seu PIB extraído da sua produção industrial. Atualmente, a proporção caiu para 11%, com tendência de queda progressiva. A desindustrialização é apontada também por um relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), mostrando que a participação do setor industrial no PIB brasileiro vem caindo ano a ano. Em 2018, a indústria representou apenas 11,3% do PIB, quase metade dos 20% registrados em 1976.
Linha de montagem de caminhões da montadora Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, São Paulo (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 25.05.2022
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Desindustrialização: o que explica o Brasil ter chegado a esse ponto?
Há caminhos para retomar o processo de industrialização, garantem ambos especialistas consultados pela Sputnik. Adriana Aparecida Marques explica que "o futuro do Brasil parte do princípio de uma defesa calcada em bases regionais". Segundo ela, o país, "com essa gama de problemas socioeconômicos para resolver, tem dificuldade de criar sozinho uma base de defesa". A cooperação com os países sul-americanos, para ela, "é fundamental" e poderia servir como solução, mas a questão "passa principalmente por uma discussão política" em Brasília.
Eduardo Siqueira Brick aponta, nesse sentido, "que a indústria de defesa não é como outra qualquer. O objetivo dela não é gerar emprego ou PIB [Produto Interno Bruto]. Seu objetivo é o mesmo de uma unidade militar combatente, é melhor ter. Uma indústria de mísseis é mais importante que ter uma boa brigada militar, é preciso fabricar mísseis, ou estaremos suscetíveis aos embargos de quaisquer outros países".
Ele entende que esse é o momento de aprender com a história, "e aponta que tudo que é possível acontecer pode acontecer. Não é possível atribuir probabilidade a eventos futuros. E assim como para preparar uma defesa é uma atividade de décadas, não há como prever uma guerra. É preciso ter uma capacidade militar para enfrentar sempre as ameaças mais fortes. Possíveis ameaças para o Brasil só podem vir de países maiores".
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O alerta do professor aponta para um fato preocupante: a dependência do país em relação às armas da OTAN.
"O Brasil é um país gigante, e precisa atuar para ter um poder de voz mais ativa na ordem internacional. Para isso, é preciso capacidade militar própria. E toda capacidade militar do Brasil vem de países da OTAN. Isso é uma grande vulnerabilidade. Quem tem alguma possiblidade ou vontade de impor algo ao Brasil são países da OTAN", comentou.
Adriana Aparecida Marques explicou que esse é um setor sensível, sendo que "depender de armas estrangeiras é uma preocupação de todos os países", disse ela, apontando que essa ideia data de Maquiavel e a formação dos Estados modernos. Esse fato exige que o país desenvolva e sustente indústrias de defesa capazes de concebê-los e fabricá-los.
 - Sputnik Brasil, 1920, 19.08.2022
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Polônia ameaça Rússia com o artigo 5 da carta da OTAN

Caças MiG-31 com mísseis hipersônicos Kinzhal - Sputnik Brasil, 1920, 21.08.2022
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O vice-ministro da Defesa polonês, Wojciech Skurkiewicz, ameaçou responder no âmbito da OTAN à implantação pela Rússia de mísseis hipersônicos Kinzhal na região de Kaliningrado.

"As nossas ações – em consultas com os nossos aliados e o comando da OTAN — são e vão permanecer adequadas em relação às ameaças e ações empreendidas pela Rússia", afirmou o funcionário ao responder a uma pergunta da agência PAP sobre o surgimento de novas armas no exclave russo.

Segundo Skurkiewicz, a cooperação no âmbito da OTAN é a "base para garantir a segurança da Polônia".

"Essas garantias estavam e continuam em vigor, e os compromissos a esse respeito são claramente constatadas pelos nossos parceiros: certos membros da Aliança Atlântica, bem como o presidente norte-americano, Joe Biden", acrescentou o vice-ministro da Defesa polonês.

 - Sputnik Brasil, 1920, 20.08.2022
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Segundo ele, o artigo 5 da carta da Aliança Atlântica também permanece em vigor e, em caso de ameaça, os membros do bloco militar vão atuar de acordo com o princípio "um por todos e todos por um".
Anteriormente, o Ministério da Defesa russo informou que três MiG-31 com mísseis Kinzhal foram transferidos para a região de Kaliningrado. Fazendo parte da dissuasão estratégica, eles estarão em serviço de combate de modo permanente.
O míssil hipersônico Kinzhal, de acordo com os desenvolvedores, supera garantidamente todos os sistemas de defesa antiaérea e antimísseis existentes, transportando ogivas nucleares e convencionais a distâncias de até dois mil quilômetros. Caças MiG-31, armados com mísseis hipersônicos Kinzhal, têm sido usados com sucesso durante a operação militar especial russa na Ucrânia, segundo disse na semana passada em uma entrevista ao jornal Krasnaya Zvezda o comandante da Força Aérea russa, tenente-general Sergei Dronov.
O primeiro uso dos Kinzhal no âmbito da operação especial ocorreu em 18 de março. Na época, devido à velocidade hipersônica e à energia cinética ultra-alta, a ogiva do míssil destruiu um arsenal subterrâneo protegido situado em uma área montanhosa no povoado de Delyatin, na região de Ivano-Frankovsk, construído ainda nos tempos soviéticos para armazenar munições e mísseis especiais.

Créditos Sputnik


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